Uma pequena bola de grama seca. À primeira vista, não parece nada interessante, mas, esconde um potencial energético que, segundo especialistas, pode ajudar a reduzir a pobreza, minimizar o aquecimento do planeta e mudar a vida nas localidades rurais e nas grandes cidades do Sul em desenvolvimento.
As bolas de grama seca constituem uma das tantas formas de bioenergia desenvolvidas por cientistas nos últimos anos, como o biogás, o bioetanol e o biodiesel, obtidos com base em cultivos de cana-de-açúcar, beterraba e milho ou extraídos do carvão vegetal, esterco de gado ou dejetos agrícolas.
“Agora mesmo, com o petróleo na casa dos US$ 50 o barril (de 159 litros), a bioenergia pode facilmente competir com o óleo como recurso energético”, afirmou o diretor-executivo do grupo de pesquisa e assessoria canadense Produção Agrícola com Recursos Eficientes (Reap-Canadá), Roger Samson. “A maior nova fonte de energia do mundo é um biocombustível feito a partir de pequenas bolas compactas de grama”, disse o especialista à IPS ás vésperas do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado neste domingo. As economias baseadas em combustíveis fósseis poderão fazer uma transição para a bioenergia nas próximas décadas.
Essa mudança beneficiará não somente a população pobre das áreas rurais, mas, também, todo o planeta, porque os biocombustíveis minimizam a alteração climática, assinalou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em um relatório.
A maioria dos cientistas concorda que o atual ciclo de aquecimento planetário é causado pelos gases que causam o efeito estufa, derivados, sobretudo, da queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás. Um hectare de grama cultivada em terras marginalizadas e áreas tropicais tem o potencial de produzir energia equivalente a 100 barris de petróleo por ano, segundo uma série de estudos feitos no Brasil, ressaltou Samson.
A grama é seca e transformada em pequenas esferas sólidas que são usadas em estufas e fornos. O processo é renovável, a energia eficiente e as emissões de gases que causam o efeito estufa são inferiores às da combustão de madeira, carvão ou petróleo.
A FAO destacou que a bioenergia é uma alternativa para cerca de dois bilhões de pessoas que ainda vivem sem eletricidade ou outras formas modernas de energia em áreas rurais do Sul em desenvolvimento. Lhes dá a oportunidade de diversificar sua atividade agrícola, melhorar sua segurança alimentar e contribuir para um desenvolvimento sustentável.
Ao que parece, o sistema de bolas de grama seca já é aplicado em algumas partes da China pelos próprios fazendeiros, que as elaboraram com dejetos agrícolas e as usam nas cozinhas de suas casas. Por outro lado, o nascente mercado de “créditos de carvão” também favorecerá a bioenergia, segundo alguns especialistas.
O Protocolo de Kyoto, que obriga os países industrializados a reduzirem suas emissões de gases causadores do efeito estufa, permite às companhias do Norte, através da aquisição de créditos de carbono, investir em projetos de redução em países em desenvolvimento e contabilizá-los como próprios para seus países de origem. Isto poderia beneficiar projetos de bioenergia em países do Sul. Por outro lado, a busca de novas formas de energia se faz mais urgente conforme diminuem os fornecimentos de petróleo no mundo.
Aproximadamente, 35% da energia usada no planeta procede do petróleo. Em 2004, o consumo chegou a 82,4 milhões de barris diários, 3,4% mais do que no ano anterior, impulsionado especialmente pela crescente demanda interna da China, segundo dados do independente Instituto Worldwatch, com sede em Washington, dedicado à pesquisa ambiental.
No ano passado houve um aumento geral no consumo de todo tipo de produtos, desde grãos ate carne, metal e petróleo, estimulado pelas crescentes economias da Ásia, particularmente a chinesa. “As decisões da China têm um peso transcendental no futuro da humanidade e do planeta”, disse o presidente do Worldwatch, Christopher Flavin.
Há mais consumidores com renda média e alta (mais de US$ 7 mil ao ano) na Ásia Pacífico do que na Europa Ocidental e América do Norte juntas, segundo um estudo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnud). “Tudo isto contribui para um futuro cenário onde mais e mais pessoas que satisfazem suas necessidades básicas através de um grande consumo aumentem a demanda para níveis semelhantes aos da Europa e América do Norte”, afirmou Wei Zhao, diretora do projeto Consumo Sustentável na Ásia, do Pnud.